primeiro dia de terreiro
Como cheguei no terreiro e uma mensagem do tarot para as leitoras!
Não é somente meu
O pé que pisa nesse chão
Ou a voz que ecooa em minha alma
A mão que cria, pinta e escreve
A história que insisto em contar
Não é somente meu
O sonho que tanto sonho
E o caminho que faço ao caminhar
Olho para trás e vejo outros olhos
Cheios e puros
Que me dão força
Me ajudam a viver e relembrar
memória_Rita Zerbinatti_2024
Me conectar com a minha ancestralidade e com a minha espiritualidade foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Eu me vi perdida por muito tempo, nada parecia verdadeiramente se encaixar ou fazer sentido. É uma sensação tão esquisita, porque tudo está bem e ao mesmo tempo, não está exatamente bem. Não estava vivenciando nada ruim, mas sentia uma constante falta e nem sabia do quê. Até que chegou uma certa sexta-feira, com uma lua que brilhava firme lá no alto, que encontrei o que estava faltando. Fui em um terreiro de Umbanda e desde então, nunca mais parei.
Foi dentro de um terreiro, esses quilombos urbanos, que me encontrei, me abri, me curei. E claro, ainda estou nesse processo de encontro e de cura - e vou continuar, aparentemente, pelo resto da vida. É interessante que, antes disso tudo, achava o máximo a ideia de estar perdida, estar por aí experimentando várias coisas. Adorava a ideia do desencontro, mas só adorava porque nunca havia, de fato, me encontrado. Nunca havia me olhado assim tão de frente, tão por inteira.
E é assim que dou início à essa nova jornada: retorno para os textos depois de explorar outros formatos. A escrita sempre esteve aqui, e ela sempre quis estar aqui, mas sei lá - não era hora. Perdi todos os textos que havia escrito em uma antiga newsletter (se você leu algum desses textos antigos, dá um alô) e depois disso, desanimei um pouco e quis seguir outros caminhos - que nunca me deixaram tão à vontade e tão satisfeita, para ser sincera. E quero começar isso aqui despida, me apresentando em linhas tortas, como sempre:
escrevo como uma mulher não branca, como moradora da Sapopemba, zona leste de São Paulo, como corpo de terreiro de Umbanda, como artista visual, como professora e tantas outras coisas que sou. Não caberei inteira nesses textos e não quero caber, quero apenas contar um pouco sobre o que sinto e o que vivo. Não escreverei sozinha pois quem sou hoje só existe por causa da minha ancestralidade, aquelas e aqueles que viveram antes de mim e que nessa jornada me amparam, me orientam, me ajudam e estão aqui comigo nesse momento, ao escrever. Eles me dão força, sempre.
Peço licença
Peço benção
Agradeço
e começo.
contato_Rita Zerbinatti_2024
Estava vivendo no meu ritmo maluco, meio perdida, avoada, distraída, no automático, fazendo mil coisas, descansando mal, trabalhando demais, online demais, cansada demais, bebendo rios de café (isso continua) e vez ou outra, me deparava com essas temáticas de terreiro. Confesso que me interessava, mas fui ignorando e seguindo meu ritmo alucinado, nunca dando muita atenção para a espiritualidade.
Primeiro aconteceu na escola: minha querida (agora ex-aluna) Viviane - que amo com todas as forças - me contava das suas vivências no terreiro, eu ia escutando tudo encantadíssima. Logo comecei a perceber que esses temas estavam constantes na minha vida, na série que eu assistia e nos livros que lia. Até que comentei com a Vivi que tinha muita curiosidade de conhecer, de viver aquilo também.
Ela me convidou bem no estilo vamos-amanhã-então? e eu fui. Era sexta-feira, maio de 2023, e ela me levou para uma gira de Boiadeiro em um terreiro aqui no Sapopemba. Fui às cegas, nunca tinha ido, não fazia ideia do que rolava ali e estava ansiosa, claro. Quando chegou a hora de conversar com o guia, meu coração acelerou como nunca havia acelerado antes. Respirei fundo e falei pra ele que estava ali de curiosa, que nem sabia o que fazer, que fui para conhecer mesmo. E foi naquela noite que fui acolhida e escutei as palavras que mudaram tudo.
Hoje entendo perfeitamente tudo o que ele me disse, na hora aquilo bateu de um jeito muito poderoso, mas nem tudo fez sentido naquele momento. Acontece bastante, eles falam coisas que a gente vai só vai entender bem um tempo depois. E agora, passou-se quase um ano, e tô aqui escrevendo essa história, escrevendo sobre aquela noite que me transformou por inteira.
Não tinha como (re)começar diferente.
Comecei em Maio de 2023 e nunca mais parei. De lá pra cá aprendi muita coisa, li muita coisa, vivi muita coisa, visitei outros terreiros e agora isso faz parte de mim, de quem eu sou. Perdi amizades, pois o racismo religioso é fortíssimo e tem gente que se distancia assim que descobre minha religião. Mas também ganhei muitas outras amizades <3, larguei relacionamentos e coisas que não faziam mais sentido na minha vida, mudei radicalmente, minhas prioridades agora são completamente outras e aquele cansaço que me dominava praticamente sumiu.
Por conta dessa espiritualidade, estou caminhando para chegar cada vez mais perto de mim mesma. Além da felicidade, tranquilidade e paz de espírito, encontrei ali uma libertação. É isso que tenho vivenciado e quero vivenciar cada vez mais, quero essa libertação. Quero me libertar de todas as amarras impostas, quero libertar meu olhar, minha fala, meu corpo, quero ser eu mesma, quero ensinar e aprender, quero viver na potência máxima, quero dançar, celebrar e quero estar perto desses seres supraviventes que são os nossos guias.
O terreiro me trouxe de volta.
Dedico essa newsletter à minha ancestralidade e à espiritualidade que me guia. Dedico essa newsletter à Mãe Monique Reis, que me abraça, me acolhe, me cuida com a sua espiritualidade e com a sua força. Dedico também à Mãe Paola, ao Pai Anilton, à Viviane, à Alícia e à Josi. Quero deixar registrado aqui meu amor e meu carinho por todos vocês, sou muito muito grata! Espero sempre ser ponto de força e acolhimento pra vocês, assim como vocês são para mim.
brilho_Rita Zerbinatti_2024
e vamos de tarot ;)
Tirei intuitivamente algumas cartas para você, leitora dessa cartinha! Prepare um chazinho e leia de coração aberto.
As cartas que vieram: Rei de Ouros, VI de Paus e IX de Copas.
É muito importante cultivar momentos, atividades e encontros que nos façam sentir seguras e confortáveis. O que - ou quem - te traz esse sentimento de segurança? O que - ou quem - te deixa totalmente confortável consigo mesma? Eu entendo que é necessário cultivar essa energia, é uma energia que vai nos fortalecer muito nesse momento. Se você já sabe essas respostas, vá em busca de fazer essas atividades ou encontrar essas pessoas.
Outra carta que saiu e que traz algo importantíssimo: aprender a enxergar e reconhecer o trabalho que você faz. É claro que precisamos e queremos o reconhecimento do outro, mas é essencial aprendermos a nos valorizar, reconhecer e apreciar aquilo que fazemos. O trabalho que você faz é importante e você faz muito bem feito, fique atenta para não duvidar disso.
O que pode estar em falta, ou ser um desafio pra ti nesse momento é uma hesitação, uma falta de coragem para viver uma experiência nova. Uma certa lentidão para decidir e realizar aquilo que deseja. Às vezes nos apegamos demais àquilo que estamos acostumados, a rotina é caótica e intensa, não sobra muito tempo ou ânimo para algo novo. E é justamente esse algo novo que pode renovar nossas energias, né? Pensa nisso.
A última mensagem do tarot pra você hoje é: se orgulhe da sua jornada, de tudo aquilo que te fez chegar até aqui, de tudo aquilo que construiu, que conquistou. Não tenha medo ou vergonha de mostrar suas conquistas, fique à vontade para exibir seus troféus, minha gata. Não é sobre esse orgulho que vem da necessidade de se sentir superior, é simplesmente reconhecer nossas conquistas, valorizar nossa trajetória. É tão bom pra nós quando olhamos pra isso tudo com essa felicidade orgulhosa, nossa trajetória, mesmo que cheia de erros, é nossa e admirar essa construção (em constante reforma) nos conecta com uma força muito muito poderosa. ;)
Me diz se essas mensagens fizeram sentido pra você nesse momento. Se quiser saber mais sobre o tarot, responda esse e-mail e vamos trocando ideia.
Obrigada por chegar até aqui, espero que tenha gostado.
Até mais, um beijo!
adorei te ler, Rita! poderosa a sua narrativa ♥︎